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Causos do Guião: Um Pé de Planta

Atualizado: 15 de jun. de 2022


Seu “Toco”. Nome simples, de um homem retrato fiel dessa mesma simplicidade, dotado de senso de observação e paciência incomuns. Nascido e criado no sertão dos gerais, ele é um exímio conhecedor das plantas medicinais de nosso cerrado na região de Codisburgo, onde mora e utiliza as espécies medicinais que medram por ali em profusão. Foi com ele que aprendi as indicações de uma planta encontrada com facilidade por todo lado, o cipó Amarra-vaqueiro (Banisteriopsis gardneriana). Ele tem esse nome derivado da força que seus longos galhos fibrosos, verdadeiros tentáculos que se enredam nas pernas do vivente desatento ou de seu animal, quase sempre lançando o cabra no chão.

Ele ainda discorreu mais uma tanteira de nomes que essa planta tem, mas teve um que me chamou atenção e bastou dar uma cutucada pra ouvir uma história das mais tocantes que já ouvi. De acordo com ele, há tempos atrás uma moradora de uma pequena comunidade da região foi expulsa do convívio social devido ao surgimento de uma doença de pele, que nos antigamente era temida. Sem forças, a pobre mulher se alojou próximo a um riacho debaixo de uma grande latada deste cipó, que lhe oferecia sombra e modesta proteção da chuva e do vento. Na labuta da sobrevivência, ele deu de usar dos muitos recursos que o cerrado oferece com seus frutos, catando mangaba, pequi, o araticum, o buriti e por ai vai.

Caçando algo pra confortar e aquecer o corpo combalido, ela buscava água no riacho e passava a mão nas folhas desse cipó logo acima de sua cabeça pra preparar um chá. Na passada dos tempos, num é que a doença deu de regredir? Num tardou um tim e ela já tava com a pele completamente limpa das feridas, lisa igual uma garrafa! Ressabiada, aos poucos foi se mostrando e finalmente foi aceita para retornar ao convívio da família e da comunidade. Daí em diante, todas as vezes que passava próximo a uma moita do cipó, se referia carinhosamente a planta como sendo “minha casa” ou “nossa casa”, outros nomes que ela leva.

Seu “Toco” não soube me dizer que doença seria, mas desconfiei ser hanseníase, que naqueles tempos bastava alguém desconfiar pra vida do vivente se acabar. Pois na região central de Minas ele também é conhecido como Bobenta, e tradicionalmente é utilizado no tratamento de problemas de pele em geral. Será tudo uma grande coincidência? Será?

Preparo da Infusão das Folhas de “Nossa Casa”- O preparo e uso de qualquer infusão segue algumas regras básicas: primeiramente lembre-se de que “o chá de hoje não serve pra ser tomado amanhã”. Portanto, prepare somente a quantidade a ser consumida no dia. Em seguida, pique sua planta do menor tamanho possível, pois assim você aumenta a superfície de contato, e aproveita melhor os benefícios da planta. Use vasilhas de ágata, barro, pedra, inox ou vidro, mas evite o alumínio.

Seu Toco ensina ainda que usa sempre a medida dos “3 dedos” juntos (polegar, indicador e médio) para pegar a quantidade de planta necessária no preparo do chá. Seguindo essas dicas, coloque as folhas já picadas na água fervente, apague o fogo e deixe ali por uns 15 minutos. Em seguida coe e tome uma xícara de 2 a 3 vezes no dia. Até breve e boa sorte!

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